Ilustração: Jesus, o Bom Pastor - ícone russo
Nestes dias que precedem
o Natal, ocorre-me pensar nas tantas portas que se fecham para o seu
real significado, mascarado por estranhas personagens natalinas e
maculado por poderosos interesses mercadológicos. Ocorre-me também
pensar que se o Cristianismo fosse verdadeiramente interpretado não
haveria tantos sectarismos e o simbolismo da manjedoura de Belém
seria fraternalmente reverenciado no mundo inteiro, além da barreira
das religiões.
Jesus não
fundou nenhuma igreja, nem dogmatizou nenhuma religião. Trouxe-nos a
imagem de Deus como um pai, mostrou a importância da religiosidade e
nos revelou o significado incondicional do amor. Não escreveu nada,
mas deixou, na memória de seus discípulos, a sabedoria de suas
parábolas e, no Sermão da Montanha, toda a essência do
cristianismo, falando do amor aos inimigos, do perdão das ofensas e
da importância de dar a outra face como um caminho aberto para a
reconciliação. Resumindo, quis dizer-nos que ser cristão é saber
transformar o orgulho em humildade e o egoísmo em amor.
A ênfase de sua
filosofia propunha a redenção humana pela educação e não pelo
constrangimento. Embora abominasse o pecado, Ele amava o pecador e
acreditava que educar é despertar o senso da justiça, do amor e da
beleza moral que existe, potencialmente, em cada ser humano. Nesse
sentido, entre tantos fatos de sua vida pública, exemplificou sua
tolerância e sua caridade diante da mulher adúltera e do bom
ladrão, no alto do Calvário.
Passados vinte
séculos hoje perguntamos qual o significado do seu nascimento para
cada um de nós. Sobretudo perguntamos quantos já leram e estudaram
o seu Evangelho. Nesse singelo banco escolar que é o planeta, --
onde ainda somos espiritualmente crianças -- seu conteúdo é uma
cartilha insubstituível para soletrarmos o beabá do amor, da
paciência e do perdão. Diante das sabatinas diárias da vida é
imprescindível aprendermos o que significa “orar e vigiar” e não
fazer a ninguém o que não queremos que nos façam. Quantos são
capazes de vivenciar suas lições e seus exemplos, ante as provas e
os embates do dia a dia, oferecendo a outra face ante o agressor e
perdoando sempre? Se já começamos a ensaiar essa difícil conduta
então Jesus já nasceu para nós e temos um Natal para comemorar.
Mas muitos ainda trazemos o coração fechado a essa realidade, tais
como as estalagens de Belém, cujas portas se fecharam ao seu
nascimento.
Se
perguntássemos a Paulo de Tarso onde nasceu Jesus, ele certamente
diria que foi diante das Portas de Damasco, onde chegou para
aprisionar alguns cristãos da cidade. Se perguntássemos a Maria
Madalena onde Ele nasceu, com certeza, responderia que Jesus nasceu
para ela na casa de Simão, o fariseu. Foi ali que depois de lavar e
enxugar seus pés ela ouviu sua voz compassiva perdoando-lhe os
pecados.
Onde predomina
o orgulho e o egoísmo --- essas patologias crônicas da alma humana
--- Ele não poderá renascer, ainda que invocado em rituais e
ladainhas. É imprescindível que façamos do coração uma
manjedoura humilde para que Jesus possa renascer em nossas vidas.
Caso contrário, além da beleza sentimental da fraternidade e o
significado envolvente do Natal no seio da família, temos apenas uma
data histórica para comemorar, com muitos presentes, a figura
patética de um Papai Noel, um banquete de sabores e aparências e o
apego às ilusões do mundo.
2 comentários:
Adorei!! Beijo.
Linda mensagem! Vou guardá-la em meu coração.
Obrigada. Bjs.
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