sou
só...
Viagem
“Em
torno da odisseia das ilhas, creio levar
Neste
puro desejo que me transcende, a senha
E
a palavra-chave de os labirintos serem aqui
Simples
lugares de passagem, apenas paisagem...
O
andarilho palmilha todas as dunas, areias
De
intermináveis desertos e todas as ondas
Que
os oceanos concedem, quando furibundas
Ou,
mesmo, serenadas e das praias acariciadas...
Sem
culpa, nem sina – ou de job puro devedor -,
Percorro
de lés a lés o mapa que é de ti e do mundo
Como
quem responde à morte o saldo estival...
Como
quem salta para a eterna idade da vida
E
fica suspenso entre a estrela e sua cadência
A riscar, de viajar
tão-somente, o céu da noite...”.
(Filinto
Elísio Correia e Silva, poeta de Cabo Verde).
Hoje,
saúdo o Novo ano, agradecendo ao ano Velho.
Em
terras que me acolheram além-cordilheira, concedeu-me da conquista o mais sublime
prêmio: a amizade, o afeto, a fraternidade.
Ode
à Amizade
“Se
depois do infortúnio de nascermos
Escravos
da Doença e dos Pesares
Alvos
de Invejas, alvos de Calúnias
Mostrando-nos
a campa
A
cada passo aberta o Mar e a Terra;
Um
raio despedido, fuzilando
Terror
e morte, no rasgar das nuvens
O
tenebroso seio
A
Divina Amizade não viera
Com
piedosa mão limpar o pranto,
Embotar
com dulcíssono conforto
As
lanças da Amargura;
O
Sábio espedaçara os nós da vida
Mal
que a Razão no espelho da Experiência
Lhe
apontasse apinhados inimigos
C'o
as cruas mãos armadas;
Terna
Amizade, em teu altar tranquilo
Ponho
— por que hoje, e sempre arda perene
O
vago coração, ludíbrio e jogo
Do
zombador Tirano.
Amor
me deu a vida: a vida enjeito,
Se
a Amizade a não doura, a não afaga;
Se
com mais fortes nós, que a Natureza,
Lhe
não ata os instantes.
Que
só ditosos são na aberta liça
Dois
mortais, que nos braços da Amizade,
Estreitos
se unem, bebem de teu seio
Nectárea
valentia.
Tu
cerceias o mal, o bem dilatas,
E
as almas que cultivas cuidadosa,
Com
teu suave alento aformosentam-se
Medradas
e viçosas.
Caia
a Desgraça, mais que o raio aguda
Rebente
sobre a fronte ao mal votada
Mais
lenta é a queda, menos cala o golpe
No
manto da Amizade:
E
se desce o Prazer, com ledo rosto
A
alumiar o peito de Filinto,
A
chama sobe, e vai prender seu lume
Na
alma do fido Amigo.”
(Filinto
Elísio, poeta pre-romântico português do séc. XVIII).
Por isso, antes
que o sol se ponha em minha austral latitude, louvo com desculpas pela incompletude
Adolfo
Millabur, Alcalde de Tirúa, lonko valente e sábio Lafkenche;
Alejandra
Melgarejo, incansável militante da mesma causa originária;
Alejandro
Lavquén, insigne poeta santiagueño, nos falamos há dois anos,
sem que jamais tocássemos de nossas camisas o pano;
Antonia
Cabezas, teimosa
editora, contra o “meinstrim” laboriosa autora;
Carlos
Fritz,
irmão de Eulogio, o lutador desaparecido, companheiro sofrido;
Cosme
Caracciolo, pescador das orlas de San Antonio, esgrimista de utopico patrimônio;
Cristina
Pizzaro e Felipe Castillo, escultores do belo, sempre ali, ancorados na Negra Ilha de Neftali;
Eva
Vergara, mais confidente que colega de periodismo - “el mejor ofício del mundo”,
como disse García Márquez em instante fecundo;
Juan,
meu vizinho, cujo sobrenome esqueço, companheiro de muitos mates amargos e tropeços;
Juan
Carlos Cárdenas,
guerrilheiro dos oceanos e suas gentes do mar hispano;
Luiz
Claudio Cunha, monumento
do jornalismo, gaúcho hermano, corpo e alma blindados ao cinismo;
Luiz
Egypto, do
Observatório da Imprensa inspirado editor, de vinhos chilenos o sei escolado bebedor;
Aos
três Manuéis: - ao Andrade, que se escreve “Manoel”, bardo brasileiro, veias abertas saturadas
de Américas e mel, - ao
Araya, chofer de Neruda, que me liga toda semana, como fosse o anjo da guarda que me escuda, - ao
Mirabur, Araucano de Elicura, que em seu fundo cultiva plantas da paz
e seiva pura;
Maria
José Vieira de Souza, livre-pensante, algarvia amizade, onde se abraçam os mares da minha “sodade”;
Mauro
Lando, dos fratelos o mais antigo, tradutor de línguas babélicas, irmão frequente abrigo;
Mauro
Mosciatti Olivieri, que mal minha voz com sotaque brasileiro pressentiu, e quis contratá-la la
para o que foi Rádio Lota e hoje se chama Biobío (continuo na escuta, Mauro – ouviu!);
Millaray
Painemal, amazona da Araucanía,
guerreira por um mundo melhor en la lejanía;
Patricio
Manns,
Arriba en la Cordillera reverbera tu poesía y a cada página late el
Corazón a Contraluz, escrito en la ventisqueria,
Sandro,
heróico policial dos humilhados, cujo nome completo é a urticária
dos lesa-humanidade degenerados,
Ute
Lemper, coréografa da voz,
cantatriz do amor, em 2014, prometo, cantarás frente ao mar de Isla
Negra para todos nós,
e
Julia, aqui fora de ordem alfabética, sin magullas ni rencores, en el jardín brotaron nuevas rosas con rubros odores.
Santa (!) Césaria Évora - "Sodade" (Paris, 2004)
Quem
mostra' bo
Ess
caminho longe?
Quem
mostra' bo
Ess
caminho longe?
Ess
caminho
Pa
São Tomé
Sodade
sodade
Sodade
Dess
nha terra Sao Nicolau
Si
bo 'screve' me
'M
ta 'screve be
Si
bo 'squece me
'M
ta 'squece be
Até
dia Qui
bo voltà
Sodade Sodade Sodade
Dess
nha terra Sao Nicolau.
[Añoranza]
Quién
te mostrará
ese
largo camino?
Quién
te mostrara
ese
largo camino?
Ese
camino para
San Tomé
Te
extraño Te extraño Te extraño
Esa
tierra de San Nicolás
Si
tú me escribes
(yo)
te escribiré
Si
tú me olvidas
(yo)
te olvidaré
hasta
el día
que
tú regreses.