William Buttler Yeats (1865-1939)
I
have met them at close of day
Coming with vivid faces
From counter or desk among grey
Eighteenth-century houses.
I have passed with a nod of the head
Or polite meaningless words,
Or have lingered awhile and said
Polite meaningless words,
And thought before I had done
Of a mocking tale or a gibe
To please a companion
Around the fire at the club,
Being certain that they and I
But lived where motley is worn:
All changed, changed utterly:
A terrible beauty is born.
That
woman’s days were spent
In ignorant good-will,
Her nights in argument
Until her voice grew shrill.
What voice more sweet than hers
When, young and beautiful,
She rode to harriers?
This man had kept a school
And rode our winged horse;
This other his helper and friend
Was coming into his force;
He might have won fame in the end,
So sensitive his nature seemed,
So daring and sweet his thought.
This other man I had dreamed
A drunken, vainglorious lout.
He had done most bitter wrong
To some who are near my heart,
Yet I number him in the song;
He, too, has resigned his part
In the casual comedy;
He, too, has been changed in his turn,
Transformed utterly:
A terrible beauty is born.
Hearts
with one purpose alone
Through summer and winter seem
Enchanted to a stone
To trouble the living stream.
The horse that comes from the road.
The rider, the birds that range
From cloud to tumbling cloud,
Minute by minute they change;
A shadow of cloud on the stream
Changes minute by minute;
A horse-hoof slides on the brim,
And a horse plashes within it;
The long-legged moor-hens dive,
And hens to moor-cocks call;
Minute by minute they live:
The stone’s in the midst of all.
Too
long a sacrifice
Can make a stone of the heart.
O when may it suffice?
That is Heaven’s part, our part
To murmur name upon name,
As a mother names her child
When sleep at last has come
On limbs that had run wild.
What is it but nightfall?
No, no, not night but death;
Was it needless death after all?
For England may keep faith
For all that is done and said.
We know their dream; enough
To know they dreamed and are dead;
And what if excess of love
Bewildered them till they died?
I write it out in a verse -
MacDonagh and MacBride
And Connolly and Pearse
Now and in time to be,
Wherever green is worn,
Are changed, changed utterly:
A terrible beauty is born.
PÁSCOA, 1916
Encontrei-vos ao fechar do dia;
Vinham com rostos vívidos
Do balcão ou secretária, por entre
Casas cinzentas setecentistas.
Passei com um acenar de cabeça
Ou palavras de cortesia sem sentido,
Ou então demorei-me um pouco e disse
Palavras de cortesia sem sentido,
E pensei antes de partir
Numa história jocose ou chalaça
Que agradasse a um amigo
À volta do fogo no clube,
Na certeza de que vivíamos
Onde reine o bolbo multicolour.
Tudo mudou, de todo mudou,
E uma terrível beleza nasceu.
II
Essa mulher passava os dias
Em ignorante benevolência,
E as noites em discussão
Até se tornar estridente.
Que voz mais doce que a dela,
Quando, bela e jovem,
Cavalgava com a matilha?
Este homem possuía uma escola
E montava o nosso cavalo alado;
Este outro, seu amigo e seu apoio,
Quase amoderecidos os poderes,
Podia ter, por fim, ganhado fama,
De tão sensível natureza era,
Tão ousado e doce o pensamento.
Este outro homem eu julgava
Um rude e arrogante bêbado,
Que tinha cruelmente ofendido
A quem tenho no coração,
Porém, conto-o no meu canto:
Também ele rejeitou o papel
Na comédia occasional;
Também ele foi, por sua vez, mudado,
De todo transformado:
E uma terrível beleza nasceu.
III
Corações de um só intento,
Ao longo do Verão e Inverno
Parecem de pedra, enfeitiçados,
Alterando a corrente viva.
O cavalo que surge da Estrada,
O cavaleiro, as aves que vão
De nuvem em nuvem rodopiante,
Mudam minuto a minuto;
Uma sombre de nuvem no rio
Muda minuto a minuto.
Um casco que escorrega na borda
E um cavalo chapinha na água;
Mergulham galinhas silvestres
E as fêmeas chamam os machos;
Todos vivem minuto a minuto:
A pedra permanence no meio.
IV
Longo de mais, o sacrifício
Faz do coração uma pedra.
Oh, quando bastará?
Isso cabe ao Céu dizer; a nós,
Murmurar nome após nome
Como a mãe nomeia o filho
Quando, por fim, o sono chega
A membros extenuados.
O que é, senão o anoitecer?
Não, não a noite, mas a morte;
Terá sido afinal a morte inútil?
Pois a Inglaterra pode cumprir,
Apesar de tudo, a palavra.
Sabemos o sonho deles; chega
Saber que sonharam e estão mortos;
E se o excesso de amor,
Por desvairo, os faz morrer?
No meu verso escrevo tudo:
MacDonagh e MacBride
E Connolly e Pearse,
Agora e no tempo por vir,
Onde quer que reine a cor verde,
Mudaram, de todo mudaram:
E uma terrível beleza nasceu.
(trad. João Ferreira Duarte)