Fotos: Frederico Füllgraf - jul 2014
24 julho 2014
23 julho 2014
Manoel de Andrade: A moldura dos tempos
Poema
Cada
dia é um devir inquietante,
um
enredo que anuncia a tempestade
e
a bonança...?
ah!
a bonança é um barco num medonho temporal!
Uma
egrégora maligna comanda o turbilhão,
é
a frequência subliminar que domina o mundo,
a
combustão da história,
o
trágico espasmo da vida,
o
tumulto e a fúria linchando as derradeiras utopias.
Na
moldura dos tempos cada alma revela o seu retrato,
entre
a incredulidade dos “sábios” e a fé de uma criança,
transita
a expectativa dos homens...
São
dias sem bandeiras,
quando
a verdade se envergonha da “justiça”,
as
togas e os mandatos acumpliciados na ambição,
os
crimes lavados na corte dos “eleitos”
e
os vilões absolvidos nesse palco de trapaças.
Até
quando assistiremos a esse fatídico cenário?
Quem
apagará as luzes dessa medonha ribalta?
Até
quando, Senhor, suportaremos tanta ignomínia?
Nessa
república de escândalos,
a
corrupção gargalha da história.
Nos
palanques da ilusão,
máfias
partidárias e alianças promíscuas
maquiam
seus patéticos contendores.
É
um ritual insuportável,
onde
o poder trama as suas dinastias,
as
ideologias são negociadas
e
nas tribunas se mascara a hipocrisia.
Eis
o reduto oficial dos futuros saqueadores,
festejando
sua agenda eleitoral em sórdidos banquetes,
ante
a súplica inconsolável no olhar dos miseráveis.
Não
quero o esquecimento,
não
aceito o silêncio,
sou
a acusação e a profecia
vivo
num tempo de iniquidades e presságios,
numa
pátria humilhada pela impunidade,
comandada
por homens sujos e soturnos
e
eis porque hoje meu canto surge assim crispado,
testemunhando
o impasse e esperando novos dias.
Sei
que não se engana a posteridade,
que
nessa nau dos insensatos toda perfídia será nominada,
todas
as máscaras cairão.
Sei
também que um lento alvorecer anunciará o amanhã,
e
que a fé e a decência viverão muito além desse holocausto.
Mas
até quando, Senhor, combateremos esse combate?
Há
uma “música” sinistra e constante,
martelando,
sem limites, em toda parte,
e
eu e tantos outros não toleramos essa assuada.
Canto
para os homens honrados e para os cultores da beleza
e
vos peço perdão por tanto desencanto,
por
vos dar meu verso sombrio e indignado,
e
esse febril retrato da esperança.
Curitiba, 04 de julho de 2014
Ilustrações: divulgação
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