12 abril 2013

Frederico Füllgraf - O chofer de Pablo Neruda


Foto Manuel Araya: F.Füllgraf




Pablo Neruda´s driver


Semanas atrás, na casa do líder pescador, Cosme Caracciolo - personagem principal do filme “Camarada Océano”, que está sendo rodando no Chile, Equador e Espanha - foi-me apresentado um senhor que, encontrado na ruas de São Paulo, de Lima ou de Santiago do Chile, não chamaria atenção: moreno, de estatura abaixo da mediana, calvo, com expressão ligeiramente tímida no rosto, ele se confundiria com milhões de latino-americanos à sua semelhança.

Contudo, quando Manuel Araya, que não tem qualquer parentesco com seu duplo - o “Loco Araya”, lendário goleiro do futebol chileno - começa a falar, sua expressão contida se revela mera defesa diante do desconhecido, e dela brotam a espontaneidade e jovialidade sincera que os campesinos trazem no sangue. Não, diz ele, “a mi no me gustaba el campo, porque los dueños de fundos maltrataban mucho a los campesinos, y yo no quería ser maltratado, por eso mi familia se mudó para la ciudad”.

Ele foi chofer, segurança e mensageiro do Prêmio Nobel de Literatura, Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, popularmente conhecido por Pablo Neruda, por obséquio do Partido Comunista chileno, do qual Neruda era membro histórico e candidato à Presidência; candidatura da que abriu mão para favorecer Allende.

Araya mora a poucas quadras da casa de Caracciolo, em San Antonio, tradicional “caleta” (baía) de pescadores, distante 100 km de Santiago e
60 km de Valparaíso, hoje, o mais importante porto de contêineres do Chile.

Um pescador pede que escrevam um livro

Então Araya juntou-se à mesma mesa de almoço, onde, dois anos atrás, Caracciolo o convencera de “botar pra fora” a estória de sua solitária luta: a exumação dos restos mortais de Pablo Neruda – ou “el compañero Don Pablo”, como diria Don Manuel, para, finalmente, provar que o poeta não morrera de morte morrida e, sim, matada.

Caracciolo conhecia o jornalista investigativo Francisco Marín, correspondente no Chile do jornal “Proceso”, do México e, juntando Araya e Marín em torno da mesma mesa, escreveram o livro de reportagem "El doble asesinato de Neruda" (vide capa), que prontamente recomendei à Geração Editorial, de Luis Fernando Emediato.

O livro é uma denúncia contundente contra a Clínica Santa María, onde desapareceu a ficha médica de Neruda, lá internado no dia 18 de setembro de 1973, uma semana após o sanguinário golpe do general Augusto Pinochet, que deprimira o poeta.

Golpe militar, prisão de Araya e morte de Neruda

Em companhia da ex-bailarina de Chillán e terceira esposa de Neruda, Matilde Urrutía, no 18 de setembro de 1973, Araya subira de Isla Negra para Santiago trazendo a bordo a Neruda, que não se sentia bem. Em trama paralela, o embaixador do México no Chile articulara entre seu governo e os golpistas chilenos a saída de Neruda para o exílio no México. Neruda aceitara, relutante, a saída do Chile “porque no quería abandonar a su pueblo”, me contou Araya, ali à mesa. Finalmente, Neruda acabou aceitando a ideia do exílio, afinal de contas em frente à praia de Isla Negra estacionara uma nave da marinha chilena e apontara seus canhões para a casa do poeta. Canhões contra a poesia - inacreditável!

Com o telefone cortado, isolado e ameaçado, Neruda resolvera internar-se na clínica de Santiago, para exames, porque no dia 22 de setembro, aterrissaria um avião do Governo Mexicano, especialmente fretado para buscá-lo e decolar no dia 24 de setembro. Na tarde do dia 23, o médico que atendia Neruda, pediu a Araya que fosse comprar alguns medicamentos. Araya partiu rumo a uma farmácia e nunca mais voltou: no caminho, o Citroën de Neruda foi fechado, Araya arrancado dele aos pontapés e coronhadas e, depois de levar um tiro na perna esquerda, conduzido ao famigerado Estádio Nacional, onde permaneceu durante longos meses. No dia seguinte, 24 de setembro, um párroco lhe contou que Neruda havia morrido.

Quando reconquistou a liberdade, em 1974, iniciou seu mergulho nas circunstâncias da morte de seu patrão e protetor (Araya é filho de camponeses pobres) e foi documentando tudo o que lhe parecera estranho: o estranho pedido para que fosse comprar medicamentos, o laudo médico apontando o câncer de próstata em estágio benigno como causa-mortis, o desaparecimento da ficha médica de Neruda, e tantas, tantas outras irregularidades e mistérios. E pasmemos: assombrosamente, na mesma clínica, faleceria 8 anos mais tarde o ex-presidente democrata-cristão, Eduardo Frei Montalva. Transcorridos 30 anos, seus familiares pressionaram a Justiça e conseguiram sua exumação. Esta confirma que Frei foi mesmo assassinado; o Presidente, por envenenamento, Neruda com uma injeção letal no estômago. Ambos nas mãos do mesmo médico. Somando 2+ 2, então Araya convenceu-se de um atentado.

O Partido adere à causa de Araya

Observadores incrédulos, mas também o jornalista investigativo, perguntam-se, por que Araya demorou 40 anos para fazer a denúncia. Mas a pergunta não procede, ele vem denunciando o suposto assassinato do poeta desde 1974. Que não tenha tido o respaldo necessário, deve-se à ditadura que durou até 1991, e depois dela, ao medo ainda persistente, pois no Chile não é como na Argentina: salvo algumas exceções, os assassinos estão soltos. Mas houve também dois antagonistas que barraram as revelações de Araya: Matilde Urrutía, mulher avessa à militância na esquerda, e a Fundação Neruda, que detém todos os direitos sobre a obra do Nobel e é acusada gravemente de corrupção e mercantilização do nome de Neruda.

Em 2011, finalmente, a luta de Araya ganhou a adesão do PC, cujo advogado, Eduardo Contreras, é autor da ação criminal presidida pelo Juiz Mario Carroza, que determinou a exumação ocorrida no último dia 7 de abril.

Nesta data, junto à casa de Neruda em Isla Negra, iniciamos as filmagens de “O chofer de Neruda”, com estreia prevista para 2014.



Nerudas Fahrer 
German version 


Während der Drehvorbereitungen für einen Dokumentarfilm über nachhaltige Fischerei in Chile, im Hause Cosme Caracciolos, der Hauptfigur des Films, lernte ich vor einigen Monaten in der Hafenstadt San Antonio, ca. 100 km von Santiago entfernt, Nobelpreisträger Pablo Nerudas ehemaligen Fahrer und Bodyguard, Don Manuel Araya, kennen.

Araya ist die Schlüsselfigur Nerudas neuerlicher Exhumierung; die dritte seit seinem Tode im September 1973.

Als Spross einer armen Landarbeiterfamilie, die in den 1950er der Zukunftslosigkeit entgegen blickte und sich mit einem UmzugJahren in den Fischereihafen San Antonio bess´re Tage erhoffte, wuchs er wenige Kilometer entfernt von Nerudas Domäne in Isla Negra auf.

Nach zweijähriger Amtszeit als Botschafter Chiles in Paris, kehrte Pablo Neruda 1972 überraschend nach Chile zurück, wo er enger mit der Regierung Salvador Allendes, dem er 1970 seine eigene Präsidentschafts-Kandidatur geopfert hatte, zusammen arbeiten wollte.

Manuel Araya war damals gerade 26 Jahre alt, diente dem chilenischen Parlament und wurde Ende 1972 in dieser Fuktion von der Kommunistischen Partei Chiles ihrem erlauchtesten Mitglied, Pablo Neruda, zugestellt.

Die Begegnung von Fahrer und inzwischen vielübersetztem und weltberühmten Dichter war schnell von einer Verbundenheit geprägt: Die gemeinsame Herkunft aus armen Verhältnissen. Neftalí Ricardo Reyes Basoalto war als Sohn eines einfachen Bahnarbeiters, José del Carmen Reyes Morales, 1904 im zentralchilenischen Parral geboren worden und ohne Mutter, der kurz nach seiner Geburt verstorbenen Volksschullehrerin Rosa Basoalto Opazo, aufgewachsen. Als Hommage an den Prager Novellisten des XIX. Jh., Jan Nepomuk Neruda, hatte er sich bereits als Heranwachsender den Pseudonym „Pablo Neruda“ zugelegt und später als offiziellen Namen urkundlich gemacht. 1906 zogen Vater und Sohn nach Temuco, in Araukanien, wo Neruda seine ersten Gedichte schrieb. Doch auch die Rückehr in die Provinz Maule verbesserte das Leben der Reyes nicht, Aussichten auf eine verdientere Zukunft beseelten Neruda erst im fernen Santiago.

Als nun der junge Araya zu ihm stiess, wusste Neruda wovon sein Fahrer sprach, wenn er sagte, „a mí no me gustaban las humillaciones – ich liebte die Demütigungen nicht“. Die Armut als gemeinsame Jugendgefährtin förderte ihre Freundschaft.

Und dann passierte es: Am 14. September 1973, einen Tag nach dem Militärputsch, überfielen sie Nerudas Haus; zuerst das Heer, dann die Marine. Jede Menge teurer Mitbringseln aus dem Ausland liessen die Militärs mitgehen, Nerudas Eigentum wurde geplündert. “Angeblich suchten sie nach Waffen und Führern der KP, die Neruda vesteckt haben sollte“, erzählt Araya im Ton der Aufregung, so als wäre er gerade erst aus dem Albtraum erwacht. „Als Nobelpreisträger und Diplomat, dachte ich, sei Neruda unantastbar, aber das Vorgehen der Militärs belehrte mich eines Neuen!“.

Am 18. September 1973, bekamen Matilde Urrutía, Nerudas dritte Ehefrau, und Araya es mit der Angst zu tun: Ein Kanonenboot hatte vor dem Strand von Isla Negra Position bezogen und seine Geschütze auf des Dichters Haus gerichtet. „Da er ausserdem deprimiert war über Allendes und des Sängers Victor Jaras Tod, beschlossen wir ihn in die Prestigeklinik Santa María, in Santiago, einzuliefern.“

In einer Nebenhandlung, hatte Mexikos Botschafter, Gonzalo Martínez Corbalá, Vorbereitungen für Nerudas Exil getroffen: am 22.September landete eine offizielle Maschine der mexikanischen Regierung auf dem Santiagoer Flughafen Pudahuel, um Neruda am nächsten Tag auszufliegen; das Unternehmen war offenbar mit den Putschisten abgesprochen. „Zunächst wollte der Dichter nicht, er sagte, er könne doch nicht  sein Volk im Stich lassen“, erinnert sich Araya. Doch am 21.September willigte Neruda ein und bat Matilde, sie möge nochmal nach Isla Negra fahren, um Bücher, Bilder und Garderobe einzupacken. Matilde fuhr mit Araya die Sierra herunter. Doch schon am nächsten Morgen liess Neruda sie ans Telefon eines Nachbars rufen, sie sollten umgehend zurück in die Klinik kommen, es ginge ihm schlecht.Apúrese Manuel que la inyección le hizo mal a Pablo – Beeilen Sie sich, Manuel, die Spritze ist Pablo schlecht bekommen", drängte Matilde Urrutía den Fahrer auf der überstürzten Rückfahrt nach Santiago.

Ausser Atem vor dem Bett Nerudas stehend, habe der Dichter Araya einen Spritzeneinstich auf Magenhöhe gezeigt und gesagt, die Spritze habe Schmerzintensivierend gewirkt. War es Dipirona? Man weiss es bis heute nicht, Nerudas Behandlungsschein ist spurlos verschwunden – der Ungereitmheiten blosse Vorgeschichte, die Arayas Misstrauen schärfte.

Doch der Fahrer wurde vom wachhabenden Arzt in eine Apotheke geschickt, um neue Medikamente zu holen. Kaum war er wenige Häuserblocks abgefahren, wurde Nerudas Citroën von zwei Zivilfahrzeugen gerammt, Araya unter Fusstritten und Kolbenschlägen aus dem Wagen gezerrt und, auf  dem Boden liegend, ins linke Bein geschossen. Blutend, wurde er zum Massen-KZ improvisierten Estadio Nacional in Santiago verschleppt. Am nächsten Tag, den 24. September, erzählte ihm ein  Kirchenmann, Neruda sei tot. Araya wurde indes mehrere Monate lang weiter misshandelt.

Als er 1974 seine Freiheit erlangte, stürzte er sich in die Untersuchung der Umstände vom Tod seines Arbeitgebers. Die Verdachtsindizien verdichteten sich: Nerudas Behandlungsakte war in der Klinik verschwunden, der nach der Spritze angetroffene Arzt, Dr. Sergio Draper, hatte die Spritze aber nicht selbst verabreicht, die Anwesenheitsliste des am 23.September 1973 in der Klinik tätigen Personals war nicht mehr aufzufinden, der Name des eingespritzten Medikaments blieb ein Rätsel, und einen gewissen „Dr.Price“, der Neruda die Injektion verabreicht haben soll, gab es weder in der Klinik, noch im gesamten  Chile. „Dr.Price“ war das Neruda-Phantom.

Den Höhepunkt der Ungereimtheiten bildete der Sterbeschein der Klinik: Neruda habe nur noch 40 Kg gewogen, hiess es in der Urkunde. „Völliger Irrsinn!“, entgegnet Araya: „Neruda wog in jenen Tagen 123 Kg, so  habe ich ihn in Erinnerung - wie sollte er in wenigen Stunden 80 Kg ´abgenommen´ haben!“. Dann meldete sich der damalige Botschafter Gonzalo Martínez Corbalá zu Wort und attestierte Pablo Neruda während seinem Besuch in der Klinik exzellente Laune und gute körperliche Verfassung, von einer akuten Entwicklung des Prostata-Krebses könne keine Rede sein.

Doch Chile wurde hellhörig, als im Januar 1982 in der gleichen Klinik und in den Händen des gleichen Arzets, der christdemokratische, von der Konrad-Adenauer-Stiftung gestützte, ex-Staatspräsident Eduardo Frei Montalva auf unerklärlkiche Weise verstarb.
Matilde Urrutía aber schlug Arayas Attentats-These in den Wind, und kündigte sein Arbeitsverhältnis. „Sie schenkte mir Nerudas Citroën und sagte, ´auf daß Sie nie wieder behaupten, Pablo sei ermordet worden!´.  Vielleicht fürchtete sie um ihr Leben“. Matilde Urrutía verstarb 1985 im unfesten Glauben, Neruda sei an den Folgen des bereits in Paris diagnostizierten, doch kontrollierten Prostata-Krebs´ gestorben. Es war unfester Glaube, auch sie war inzwischen skeptisch geworden. Achtmal habe er dann die KP auf seine Vermutungen angesprochen, seufzt Araya, doch selbst dort wollte ihm keiner so recht folgen.

Für Araya verstrichen die Jahre in einsamer Pein.

Doch der Fischer Cosme Caraciollo hatte einen plötzlichen Einfall: Er brachte seinen Nachbar Araya mit dem Journalisten Francisco Marín, Korrespondent der mexikanischen Wochenzeitung „Proceso“, zusammen, und Marín schrieb jenen Artikel vom 31.Mai 2011 – „¿Mataron a Neruda?“ – der mit dem Buch „El doble asesinato de Neruda“ (Ocholibros, 2012) den Stein ins Rollen brachte.
Nun wurde auch der Santiagoer Anwalt Eduardo Contreras hellhörig und erstattete bereits nach seinem ersten Gespräch mit Araya Anzeige wegen Mordverdacht. Dem schlossen sich auch Nerudas Verwandte aus der väterlichen Reyes-Linie an und forderten von Richter Mario Carroza, der bereits die Umstände Salvador Allendes´ Tod aufzuklären versuchte, die Exhumierung des Dichters.

Neruda war im September 1973 sofort auf dem Zentralfriedhof in Santiago beigesetzt worden – ohne jegliche Autopsie. Siebzehn Jahre später wurden seine angeblichen, sterblichen Reste von Santiago nach Isla Negra umgebettet.

Die These Arayas - der sich Marín, Contreras und Rodolfo Reyes, Anwalt und Neffe Nerudas, anschlossen - besagt, die Militärs um Pinochet hatten es sich anders überlegt als sie begriffen, daß Neruda eine Exil-Regierung mit weltweiter Unterstützung ausrufen würde, die das rasche Ende der blutigen Diktatur besiegelt hätte. „In vier Monaten ist Pinochet von der Macht weggefegt!“ - dieses Szenario habe ihm Neruda selbst noch auf dem Krankenbett zugeflüstert, behauptet Araya.

Der Kampf Manuel Arayas hatte es an sich, er ist der Wahrheit einen gewaltigen Schritt näher gekommen. Jedoch, daß es nach all diesen Jahren und Umbettungen technisch möglich sein dürfte, festzustellen, ob Chiles grossem Dichter  Medizin oder Todesmittel – und sei es die Überdosis eines Schmerzlindernden Mittels – injiziert wurde, scheint kaum noch eine realistische Hoffnung zu sein.

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