Foto Manuel Araya: F.Füllgraf
Pablo Neruda´s driver
Semanas atrás, na casa do líder pescador, Cosme
Caracciolo - personagem principal do filme “Camarada Océano”, que está sendo
rodando no Chile, Equador e Espanha - foi-me apresentado um senhor que,
encontrado na ruas de São Paulo, de Lima ou de Santiago do Chile, não chamaria
atenção: moreno, de estatura abaixo da mediana, calvo, com expressão
ligeiramente tímida no rosto, ele se confundiria com milhões de
latino-americanos à sua semelhança.
Contudo, quando Manuel Araya, que não tem qualquer parentesco com seu duplo - o “Loco
Araya”, lendário goleiro do futebol chileno - começa a falar, sua
expressão contida se revela mera defesa diante do desconhecido, e dela brotam a
espontaneidade e jovialidade sincera que os campesinos
trazem no sangue. Não, diz ele, “a mi no me
gustaba el campo, porque los dueños de fundos maltrataban mucho a los
campesinos, y yo no quería ser maltratado, por eso mi familia se mudó para la
ciudad”.
Ele foi chofer, segurança e mensageiro do Prêmio Nobel
de Literatura, Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, popularmente conhecido por Pablo
Neruda, por obséquio do Partido Comunista chileno, do qual Neruda era membro
histórico e candidato à Presidência; candidatura da que abriu mão para
favorecer Allende.
Araya mora a poucas quadras da casa de Caracciolo, em
San Antonio, tradicional “caleta” (baía) de pescadores, distante 100 km de
Santiago e
60 km de Valparaíso, hoje, o mais importante porto de
contêineres do Chile.
Um pescador pede que escrevam um livro
Então Araya juntou-se à mesma mesa de almoço, onde, dois
anos atrás, Caracciolo o convencera de “botar pra fora” a estória de sua
solitária luta: a exumação dos restos mortais de Pablo Neruda – ou “el
compañero Don Pablo”, como diria Don Manuel, para, finalmente, provar que o
poeta não morrera de morte morrida e, sim, matada.
Caracciolo conhecia o jornalista investigativo Francisco
Marín, correspondente no Chile do jornal “Proceso”, do México e, juntando Araya
e Marín em torno da mesma mesa, escreveram o livro de reportagem "El doble
asesinato de Neruda" (vide capa), que prontamente recomendei à Geração
Editorial, de Luis Fernando Emediato.
O livro é uma denúncia contundente contra a Clínica
Santa María, onde desapareceu a ficha médica de Neruda, lá internado no dia 18
de setembro de 1973, uma semana após o sanguinário golpe do general Augusto
Pinochet, que deprimira o poeta.
Golpe militar, prisão de Araya e morte de Neruda
Em companhia da ex-bailarina de Chillán e terceira
esposa de Neruda, Matilde Urrutía, no 18 de setembro de 1973, Araya subira de Isla
Negra para Santiago trazendo a bordo a Neruda, que não se sentia bem. Em trama
paralela, o embaixador do México no Chile articulara entre seu governo e os
golpistas chilenos a saída de Neruda para o exílio no México. Neruda aceitara,
relutante, a saída do Chile “porque no quería abandonar a su pueblo”, me contou
Araya, ali à mesa. Finalmente, Neruda acabou aceitando a ideia do exílio,
afinal de contas em frente à praia de Isla Negra estacionara uma nave da
marinha chilena e apontara seus canhões para a casa do poeta. Canhões contra a
poesia - inacreditável!
Com o telefone cortado, isolado e ameaçado, Neruda resolvera
internar-se na clínica de Santiago, para exames, porque no dia 22 de setembro,
aterrissaria um avião do Governo Mexicano, especialmente fretado para buscá-lo e
decolar no dia 24 de setembro. Na tarde do dia 23, o médico que atendia Neruda,
pediu a Araya que fosse comprar alguns medicamentos. Araya partiu rumo a uma
farmácia e nunca mais voltou: no caminho, o Citroën de Neruda foi fechado,
Araya arrancado dele aos pontapés e coronhadas e, depois de levar um tiro na perna
esquerda, conduzido ao famigerado Estádio Nacional, onde permaneceu durante
longos meses. No dia seguinte, 24 de setembro, um párroco lhe contou que Neruda
havia morrido.
Quando reconquistou a liberdade, em 1974, iniciou seu
mergulho nas circunstâncias da morte de seu patrão e protetor (Araya é filho de
camponeses pobres) e foi documentando tudo o que lhe parecera estranho: o
estranho pedido para que fosse comprar medicamentos, o laudo médico apontando o
câncer de próstata em estágio benigno como causa-mortis, o desaparecimento da
ficha médica de Neruda, e tantas, tantas outras irregularidades e mistérios. E
pasmemos: assombrosamente, na mesma clínica, faleceria 8 anos mais tarde o
ex-presidente democrata-cristão, Eduardo Frei Montalva. Transcorridos 30 anos,
seus familiares pressionaram a Justiça e conseguiram sua exumação. Esta
confirma que Frei foi mesmo assassinado; o Presidente, por envenenamento,
Neruda com uma injeção letal no estômago. Ambos nas mãos do mesmo médico. Somando
2+ 2, então Araya convenceu-se de um atentado.
O Partido adere à causa de Araya
Observadores incrédulos, mas também o jornalista
investigativo, perguntam-se, por que Araya demorou 40 anos para fazer a
denúncia. Mas a pergunta não procede, ele vem denunciando o suposto assassinato
do poeta desde 1974. Que não tenha tido o respaldo necessário, deve-se à
ditadura que durou até 1991, e depois dela, ao medo ainda persistente, pois no
Chile não é como na Argentina: salvo algumas exceções, os assassinos estão
soltos. Mas houve também dois antagonistas que barraram as revelações de Araya:
Matilde Urrutía, mulher avessa à militância na esquerda, e a Fundação Neruda,
que detém todos os direitos sobre a obra do Nobel e é acusada gravemente de
corrupção e mercantilização do nome de Neruda.
Em 2011, finalmente, a luta de Araya ganhou a adesão do
PC, cujo advogado, Eduardo Contreras, é autor da ação criminal presidida pelo
Juiz Mario Carroza, que determinou a exumação ocorrida no último dia 7 de abril.
Nesta data, junto à casa de Neruda em Isla Negra, iniciamos
as filmagens de “O chofer de Neruda”, com
estreia prevista para 2014.
Nerudas Fahrer
German version
Araya ist die
Schlüsselfigur Nerudas neuerlicher Exhumierung; die dritte seit seinem Tode im
September 1973.
Als Spross
einer armen Landarbeiterfamilie, die in den 1950er der Zukunftslosigkeit entgegen
blickte und sich mit einem UmzugJahren in den Fischereihafen San Antonio
bess´re Tage erhoffte, wuchs er wenige Kilometer entfernt von Nerudas Domäne in
Isla Negra auf.
Nach
zweijähriger Amtszeit als Botschafter Chiles in Paris, kehrte Pablo Neruda 1972
überraschend nach Chile zurück, wo er enger mit der Regierung Salvador
Allendes, dem er 1970 seine eigene Präsidentschafts-Kandidatur geopfert hatte, zusammen
arbeiten wollte.
Manuel Araya
war damals gerade 26 Jahre alt, diente dem chilenischen Parlament und wurde Ende
1972 in dieser Fuktion von der Kommunistischen Partei Chiles ihrem
erlauchtesten Mitglied, Pablo Neruda, zugestellt.
Die
Begegnung von Fahrer und inzwischen vielübersetztem und weltberühmten Dichter
war schnell von einer Verbundenheit geprägt: Die gemeinsame Herkunft aus armen
Verhältnissen. Neftalí Ricardo Reyes Basoalto war als Sohn
eines einfachen Bahnarbeiters, José del Carmen Reyes Morales, 1904 im
zentralchilenischen Parral geboren worden und ohne Mutter, der kurz nach seiner
Geburt verstorbenen Volksschullehrerin Rosa Basoalto Opazo, aufgewachsen. Als
Hommage an den Prager Novellisten des XIX. Jh., Jan Nepomuk Neruda, hatte er sich bereits als
Heranwachsender den Pseudonym „Pablo Neruda“ zugelegt und später als
offiziellen Namen urkundlich gemacht. 1906 zogen Vater und Sohn nach Temuco, in
Araukanien, wo Neruda seine ersten Gedichte schrieb. Doch auch die Rückehr in
die Provinz Maule verbesserte das Leben der Reyes nicht, Aussichten auf eine
verdientere Zukunft beseelten Neruda erst im fernen Santiago.
Als
nun der junge Araya zu ihm stiess, wusste Neruda wovon sein Fahrer sprach, wenn
er sagte, „a mí no me gustaban las humillaciones – ich liebte die Demütigungen
nicht“. Die Armut als gemeinsame Jugendgefährtin förderte ihre Freundschaft.
Und dann passierte es: Am 14.
September 1973, einen Tag nach dem Militärputsch, überfielen sie Nerudas Haus;
zuerst das Heer, dann die Marine. Jede Menge teurer Mitbringseln aus dem
Ausland liessen die Militärs mitgehen, Nerudas Eigentum wurde geplündert.
“Angeblich suchten sie nach Waffen und Führern der KP, die Neruda vesteckt
haben sollte“, erzählt Araya im Ton der Aufregung, so als wäre er gerade erst
aus dem Albtraum erwacht. „Als Nobelpreisträger und Diplomat, dachte ich, sei
Neruda unantastbar, aber das Vorgehen der Militärs belehrte mich eines Neuen!“.
Am 18. September 1973, bekamen Matilde Urrutía, Nerudas
dritte Ehefrau, und Araya es mit der Angst zu tun: Ein Kanonenboot hatte vor
dem Strand von Isla Negra Position bezogen und seine Geschütze auf des Dichters
Haus gerichtet. „Da er ausserdem deprimiert war über Allendes und des Sängers
Victor Jaras Tod, beschlossen wir ihn in die Prestigeklinik Santa María, in
Santiago, einzuliefern.“
In einer Nebenhandlung, hatte Mexikos Botschafter, Gonzalo Martínez Corbalá, Vorbereitungen für
Nerudas Exil getroffen: am 22.September landete eine offizielle Maschine der
mexikanischen Regierung auf dem Santiagoer Flughafen Pudahuel, um Neruda am
nächsten Tag auszufliegen; das Unternehmen war offenbar mit den Putschisten
abgesprochen. „Zunächst wollte der Dichter nicht, er sagte, er könne doch
nicht sein Volk im Stich lassen“, erinnert
sich Araya. Doch am 21.September willigte Neruda ein und bat Matilde, sie möge
nochmal nach Isla Negra fahren, um Bücher, Bilder und Garderobe einzupacken.
Matilde fuhr mit Araya die Sierra herunter. Doch schon am nächsten Morgen liess
Neruda sie ans Telefon eines Nachbars rufen, sie sollten umgehend zurück in die
Klinik kommen, es ginge ihm schlecht. „Apúrese Manuel que la inyección le hizo mal
a Pablo – Beeilen Sie sich, Manuel, die Spritze ist Pablo schlecht
bekommen", drängte Matilde Urrutía den Fahrer auf der überstürzten
Rückfahrt nach Santiago.
Ausser Atem vor dem Bett Nerudas stehend, habe der
Dichter Araya einen Spritzeneinstich auf Magenhöhe gezeigt und gesagt, die
Spritze habe Schmerzintensivierend gewirkt. War es Dipirona? Man weiss es bis
heute nicht, Nerudas Behandlungsschein ist spurlos verschwunden – der
Ungereitmheiten blosse Vorgeschichte, die Arayas Misstrauen schärfte.
Doch der Fahrer wurde vom wachhabenden Arzt in eine
Apotheke geschickt, um neue Medikamente zu holen. Kaum war er wenige
Häuserblocks abgefahren, wurde Nerudas Citroën von zwei Zivilfahrzeugen
gerammt, Araya unter Fusstritten und Kolbenschlägen aus dem Wagen gezerrt und,
auf dem Boden liegend, ins linke Bein
geschossen. Blutend, wurde er zum Massen-KZ improvisierten Estadio Nacional in
Santiago verschleppt. Am nächsten Tag, den 24. September, erzählte ihm ein Kirchenmann, Neruda sei tot. Araya wurde indes
mehrere Monate lang weiter misshandelt.
Als er 1974 seine Freiheit erlangte, stürzte er sich in
die Untersuchung der Umstände vom Tod seines Arbeitgebers. Die
Verdachtsindizien verdichteten sich: Nerudas Behandlungsakte war in der Klinik
verschwunden, der nach der Spritze angetroffene Arzt, Dr. Sergio Draper, hatte die Spritze aber nicht selbst verabreicht, die Anwesenheitsliste des
am 23.September 1973 in der Klinik tätigen Personals war nicht mehr
aufzufinden, der Name des eingespritzten Medikaments blieb ein Rätsel, und einen
gewissen „Dr.Price“, der Neruda die Injektion verabreicht haben soll, gab es
weder in der Klinik, noch im gesamten Chile. „Dr.Price“ war das Neruda-Phantom.
Den Höhepunkt der Ungereimtheiten bildete der
Sterbeschein der Klinik: Neruda habe nur noch 40 Kg gewogen, hiess es in der Urkunde.
„Völliger Irrsinn!“, entgegnet Araya: „Neruda wog in jenen Tagen 123 Kg,
so habe ich ihn in Erinnerung - wie
sollte er in wenigen Stunden 80 Kg ´abgenommen´ haben!“. Dann meldete sich der
damalige Botschafter Gonzalo Martínez Corbalá zu Wort und attestierte Pablo
Neruda während seinem Besuch in der Klinik exzellente Laune und gute
körperliche Verfassung, von einer akuten Entwicklung des Prostata-Krebses könne
keine Rede sein.
Doch Chile wurde hellhörig, als im Januar 1982 in der
gleichen Klinik und in den Händen des gleichen Arzets, der christdemokratische,
von der Konrad-Adenauer-Stiftung gestützte, ex-Staatspräsident Eduardo Frei
Montalva auf unerklärlkiche Weise verstarb.
Matilde Urrutía aber schlug Arayas Attentats-These in
den Wind, und kündigte sein Arbeitsverhältnis. „Sie schenkte mir Nerudas
Citroën und sagte, ´auf daß Sie nie wieder behaupten, Pablo sei ermordet
worden!´. Vielleicht fürchtete sie um
ihr Leben“. Matilde Urrutía verstarb 1985 im unfesten Glauben, Neruda sei an
den Folgen des bereits in Paris diagnostizierten, doch kontrollierten
Prostata-Krebs´ gestorben. Es war unfester Glaube, auch sie war inzwischen
skeptisch geworden. Achtmal habe er dann die KP auf seine Vermutungen angesprochen,
seufzt Araya, doch selbst dort wollte ihm keiner so recht folgen.
Für Araya verstrichen die Jahre in einsamer Pein.
Doch der Fischer Cosme Caraciollo hatte einen
plötzlichen Einfall: Er brachte seinen Nachbar Araya mit dem Journalisten
Francisco Marín, Korrespondent der mexikanischen Wochenzeitung „Proceso“,
zusammen, und Marín schrieb jenen Artikel vom 31.Mai 2011 – „¿Mataron a Neruda?“ –
der mit dem Buch „El doble asesinato de Neruda“ (Ocholibros, 2012) den Stein
ins Rollen brachte.
Nun wurde auch der Santiagoer Anwalt Eduardo Contreras
hellhörig und erstattete bereits nach seinem ersten Gespräch mit Araya Anzeige
wegen Mordverdacht. Dem schlossen sich auch Nerudas Verwandte aus der väterlichen
Reyes-Linie an und forderten von Richter Mario Carroza, der bereits die
Umstände Salvador Allendes´ Tod aufzuklären versuchte, die Exhumierung des
Dichters.
Neruda war im September 1973 sofort auf dem
Zentralfriedhof in Santiago beigesetzt worden – ohne jegliche Autopsie. Siebzehn
Jahre später wurden seine angeblichen, sterblichen Reste von Santiago nach Isla
Negra umgebettet.
Die These Arayas - der sich Marín, Contreras und Rodolfo
Reyes, Anwalt und Neffe Nerudas, anschlossen - besagt, die Militärs um Pinochet
hatten es sich anders überlegt als sie begriffen, daß Neruda eine
Exil-Regierung mit weltweiter Unterstützung ausrufen würde, die das rasche Ende
der blutigen Diktatur besiegelt hätte. „In vier Monaten ist Pinochet von der
Macht weggefegt!“ - dieses Szenario habe ihm Neruda selbst noch auf dem
Krankenbett zugeflüstert, behauptet Araya.
Der Kampf Manuel Arayas hatte es an sich, er ist der
Wahrheit einen gewaltigen Schritt näher gekommen. Jedoch, daß es nach all
diesen Jahren und Umbettungen technisch möglich sein dürfte, festzustellen, ob Chiles
grossem Dichter Medizin oder Todesmittel
– und sei es die Überdosis eines Schmerzlindernden Mittels – injiziert wurde,
scheint kaum noch eine realistische Hoffnung zu sein.
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