07 outubro 2011

José Carlos Gallas - Tradução da "Dedicatória" (Zueignung) no Fausto de J.W. Goethe





José Carlos Gallas

Tradução da Dedicatória com a qual Goethe inicia o seu Fausto. Tentei amarrar o poeta com seus próprios decassílabos, mas o idioma português não se presta à construção de palavras compostas, e assim tive de ir até ao limite máximo de sílabas métricas permitidas pela boa sonoridade, os dodecassílabos. Onde sobrar ou faltar algum rabinho para tanto, aí estará o limite dos meus cuidados. Não estão perfeitos, os versos traduzidos, mas também não suficientemente ruins para que aos tupiniquins fiquem perdidos.


ZUEIGNUNG
(J.W. Goethe –  Faust. Der Tragödie erster Teil).

Ihr naht euch wieder, schwankende Gestalten,
Die früh sich einst dem trüben Blick gezeigt.
Versuch ich wohl, euch diesmal festzuhalten?
Fühl ich mein Herz noch jenem Wahn geneigt?
Ihr drängt euch zu! Nun gut, so mögt ihr walten,
Wie ihr aus Dunst und Nebel um mich steigt;
Mein Busen fühlt sich jugendlich erschüttert
Vom Zauberhauch, der euren Zug umwittert.


DEDICATÓRIA
(J.W. Goethe – Fausto, Primeira Parte da Tragédia).

De novo vos mostrais, figuras  vacilantes,
Que noutro tempo meu olhar turvado vira.
Mas devo então tentar reter-vos como dantes,
Quer-vos inda meu coração, que já delira?
Impondes-vos! Bem seja, restai presentes,
Qual vapor e névoa que a meu entorno gira;
Meu peito sente-se juvenil e agitado
Do mágico sopro que convosco é chegado.

Ihr bringt mit euch die Bilder froher Tage,
Und manche liebe Schatten steigen auf;
Gleich einer alten, halbverklungnen Sage
Kommt erste Liebe und Freundschaft mit herauf;
Der Schmerz wird neu, es wiederholt die Klage
Des Lebens labyrintisch irren Lauf,
Und nennt die Guten, die, um schöne Stunden
Vom Glück getäuscht, vor mir hinweggeschwunden.

Junto a  imagem trazeis de dias tão felizes;
Surge de novo a sombra vaga, esmaecida,
Qual prisca saga que com  incertos matizes
Jovens amores traz e amizade esquecida;
E renova-se a dor que repete os sofreres               
Do labirínteo, incerto percurso da vida.
E nomeia as almas que da sorte enganadas,
Roubadas suas horas, de mim foram levadas.

Sie hören nicht die folgenden Gesänge,
Die Seelen, denen ich die ersten sang;
Zerstoben ist das freundliche Gedränge,
Verklungen, ach! der erste Widerklang.
Mein Lied ertönt der unbekannten Menge,
Ihr Beifall selbst macht meinem Herzen Bang,
Und was sich sonst an meinem Lied erfreuet,
Wenn es noch lebt, irrt in der Welt zerstreuet.

Já não escutarão meus cantares seguintes
As almas para as quais os primeiros cantei.    
Varrida está a amistosa multidão de antes,
Idos, ah!, os ecos primeiros! Eu bem sei
Que meu canto se eleva à multidão das gentes;
Mesmo seu aplauso, por que o temo, dizei?
E aqueles que antes escutavam  meus versos, 
Se vivos estão, pela terra andam dispersos.

Und mich ergreift ein längst entwöhntes Sehnen
Nach jenem stillen, ernsten Geisterreich,
Es schwebt nun in unbestimmten Tönen
Mein lispelnd Lied, der Aeolsharfe gleich,
Ein Schauer fasst mich, Träne folgt den Tränen,
Das strenge Herz, es fühlt sich mild und weich:
Was ich besitze, seh ich wie im Weiten,
Und was verschwand, wird mir zu Wirklichkeiten.

Me invadem saudades há muito não sentidas
Daquele silente e sério reino d’empós;
Eleva-se agora em notas indefinidas,
Qual da harpa eólica, minha trêmula voz;
Junto novo pranto às lágrimas já vertidas,
E o peito rude leve trago, já não algoz:         
O que possuo me parece que se evade, 
E as coisas idas tornam-se realidade.


J. C. Gallas Patow

Veja o Faust (1926) expressionista de F. W. Murnau

2 comentários:

GARIMPO INSANO disse...

Aqui neste país de cultura langorosa , fico torpe em vet tal tradução tão harmoniosa.

GARIMPO INSANO disse...

Aqui neste país de cultura langorosa , fico torpe em vet tal tradução tão harmoniosa.