Excerto de "O caminho de Tula"
romance em construção
Naqueles dias de deambulações de Albert George pelas ruínas de Nassau, ocorria um episódio insólito no deserto do Novo México, do outro lado do mundo.
Porfírio
Contreras, capataz de uma herdade localizada junto à fronteira com o
Texas, tem a prova de que foi o dia 29 de maio de 1947, porque se
percebendo a distância segura, apeara de seu cavalo, e com a ponta
de seu punhal, que levava embainhado às costas, entre o cinturão e
as ceroulas, no lado esquerdo inferior da cela de couro gravara a
data daquela aparição, para que no futuro nem seus netos duvidassem
do que vira!
Contou-me
Contreras que, enquanto cavalgava de volta à estância, vaquejando
mil e quinhentas cabeças de boi com seus peões, foram surpreendidos
pelo bramido ensurdecedor de um objeto voador com forma imprecisa,
mas apetrechado com aletas, e que a baixa altura, estimada em
quatrocentos pés, descrevera uma elipse sobre suas cabeças,
desaparecendo por trás de uma quebrada, de onde logo os alcançara o
estrépito e a restolhada de ferros retorcidos.
Ajuntou o mayoral que a primeira reação de seus homens foi perguntarem-lhe se depois de roubarem o Texas, o Novo México e o Arizona, desta vez os americanos invadiriam a capital do país - tal seu pavor e indignação!
A notícia fizera eco em toda a região fronteiriça, mas instruído por um despacho recebido pelo telégrafo, com a advertência, “ultra-secreto!”, o cônsul americano em Juárez reunira os diretores do único jornal e da única estação de rádio da cidade (obviamente estranhando que fossem da mesma família), ordenando-lhes you guys shut up!, o que traduzido queria dizer "em boca fechada não entra mosquito!" - enfim, que seus repórteres calassem suas matracas sobre o sucedimento impronunciável.
Ajuntou o mayoral que a primeira reação de seus homens foi perguntarem-lhe se depois de roubarem o Texas, o Novo México e o Arizona, desta vez os americanos invadiriam a capital do país - tal seu pavor e indignação!
A notícia fizera eco em toda a região fronteiriça, mas instruído por um despacho recebido pelo telégrafo, com a advertência, “ultra-secreto!”, o cônsul americano em Juárez reunira os diretores do único jornal e da única estação de rádio da cidade (obviamente estranhando que fossem da mesma família), ordenando-lhes you guys shut up!, o que traduzido queria dizer "em boca fechada não entra mosquito!" - enfim, que seus repórteres calassem suas matracas sobre o sucedimento impronunciável.
Este
era “o mais infame lançamento”, nas palavras de Wayne Mattson,
antigo pesquisador dos esfíngicos movimentos ocorridos no deserto de
White Sands desde a rendição da Alemanha, referindo-se ao incidente
internacional causado pela estranha "arma voadora" que
despencara sobre os jazigos de um cemitério de Ciudad Juárez.
Ainda
bem que no México não sabiam do que ocorrera do outro lado da
fronteira, uma semana antes – sairiam correndo de suas casas para
não mais retornar!
Trama
paralela.
Em sua edição de 22 de maio de 1947, o "Alamogordo News" alardeara o susto da população da localidade de mesmo nome, “tocada por incipiente pavor”, quando uma sorte de objeto voador irrompeu em voo errático nos céus sobre a pequena cidade encravada no deserto, explodindo estrepitosamente ao chocar-se contra as montanhas de Sacramento.
Em sua edição de 22 de maio de 1947, o "Alamogordo News" alardeara o susto da população da localidade de mesmo nome, “tocada por incipiente pavor”, quando uma sorte de objeto voador irrompeu em voo errático nos céus sobre a pequena cidade encravada no deserto, explodindo estrepitosamente ao chocar-se contra as montanhas de Sacramento.
Seu
lançamento ocorrera às 4h08 da tarde, no
Complexo 33 de White Sands. O propelente líquido fora programado
para queimar durante 63,6 segundos, acelerando o foguete, com 9.827
libras
de
peso, à velocidade de 4.696 pés por segundo, ou 3.202 milhas por
hora, elevando-o até uma altitude de 76 milhas nos céus do Novo
México. Subitamente, porém, o engenho começara a cambalear, a
pressão partindo ao meio o míssil, cujos destroços despencaram nas
proximidades da 13ª. Rua com a Cuba Avenue, e também sobre os
trilhos das Ferrovias da South Pacific.
Mas
do que, diabos, estavam falando?
Alguns
malucos saltaram em seus carros, relatava o jornal, apressando-se em
alcançar o local do choque, localizado a mais de trinta milhas da
base do disparo.
Bob Calloway, que jogava bola com alguns garotos entre a Avenida Michigan e a 15ª. Rua, conta que os fios elétricos estendidos entre os postes naquelas ruas começaram a vibrar violentamente.
Bob Calloway, que jogava bola com alguns garotos entre a Avenida Michigan e a 15ª. Rua, conta que os fios elétricos estendidos entre os postes naquelas ruas começaram a vibrar violentamente.
Montados
num caminhão, ele e seus amigos acudiram ao local da queda, onde
apanharam alguns destroços como troféus. Eram fiações e tanques
metálicos que usaram para montar aeromodelos, merendeiras e caixas
de ferramentas portáteis.
Eis
o fim do misterioso "lançamento" ocorrido no dia 15 de
maio, estranhamente noticiado apenas no dia 22, uma semana depois.
Os
tais "lançamentos" eram top secret.
Por
isso, poucas horas após o bombardeio do cemitério em Ciudad Juárez,
um destacamento do ministério do ar americano cruzara a fronteira
para inspecionar o local do sinistro, encontrando-se com uma turba de mexicanos já empenhada em saquear e vender a sucata que caíra do céu.
Só
então o cônsul gringo e os nativos ficaram sabendo que a invasão
do espaço aéreo do México fora um acidente, pois, como tratara de
elucidar Monte Marlin, oficial de relações públicas do campo de
provas balísticas de White Sands, "ao invés de obedecer à
trajetória programada, navegando para norte, a engenhoca se
desgovernara, e sobrevoando El Paso, do outro lado da fronteira,
rumara ao sul..."
-
Luckily,
no one was injured!
– tratou de contemporizar o porta-voz diante das carrancas varadas
dos hispânicos.
Ao
próprio cônsul, pasmado, confidenciou que em meados de 1945, nada
menos que trezentos vagões de trem haviam descarregado em Las Cruces
o mais fantástico butim de guerra de todos os tempos!
Eram
motores das bombas voadoras alemãs V-2, como essa que acabara de
espatifar-se nos ermos. Era mais: ali abundavam fuselagens, tanques
de propelentes, giroscópios e outros equipamentos com funções a
adivinhar.
De
Las Cruces, fim da malha ferroviária, as super-armas alemãs
seguiram em caminhões - centenas de caminhões! - para a base de White
Sands.
Lá estava funcionando um programa, explicou Marlin, para treinar americanos em operações de lançamento com armas teleguiadas, artifício até ali sobejamente desconhecido na América.
Lá estava funcionando um programa, explicou Marlin, para treinar americanos em operações de lançamento com armas teleguiadas, artifício até ali sobejamente desconhecido na América.
Infelizmente,
ajuntara o oficial, apesar de operadas pelos cento e setenta e sete
cientistas e técnicos que as tinham desenvolvido na Alemanha, nem
todos os disparos com essas armas eram exitosos, embora estimasse que
sua margem de acerto fosse de sessenta e oito por cento. Portanto,
somente aqueles trinta e dois por cento errantes – ehhmm...
restantes!,
corrigiu-se rapidamente - explicavam o desvio imprevisto daquela V-2
para Ciudad Juárez.
E
arrumando num caminhão militar, fortemente guarnecido, os destroços
que restavam da arma futurista, que não deixaram fotografar pelos
mexicanos, os americanos retornaram à fronteira e desapareceram.
Fotos: divulgação
Um comentário:
Pobre México: tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos!
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