31 maio 2012

Aroldo Murá - Plagiários em expedição nazista à Amazônia


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Plagiários em expedição nazista à Amazônia


Frederico Fullgraf: inquieto, criativo e vítima de plágios.
Frederico Fullgraf, cineasta, escritor, jornalista “freelancer”, correspondente no Brasil da revista “Mare”, editada em Hamburgo, está indignado com as publicações não autorizadas de seus textos jornalísticos. Sem consulta prévia e, obviamente, sem o devido pagamento, reportagens de Fullgraf, verdadeiros “furos” no jargão jornalístico, estão sendo reproduzidas mundo afora.
Fullgraf, alemão de nascença, mas vindo em tenra idade para o Brasil, tornou-se curitibano por formação. “Globetrotter”, conhece quase o mundo inteiro, viveu anos na Alemanha, estudando e trabalhando, mas tem raízes em Curitiba, onde passou a infância e adolescência, e aqui vive atualmente. Sem muito estímulo no ambiente local, enfrenta ainda o dissabor de ver suas reportagens e outros textos usados sem a sua permissão.
A mais recente lesão aos direitos autorais sofrida pelo jornalista teuto-brasileiro é a publicação não-autorizada de “Nazistas na Amazônia”, um “furo” de reportagem sobre a história de alemães que desembarcaram no Jari em 1935 para uma confusa e misteriosa expedição científica.
ATÉ SPIELBERG
Spielberg: no rol dos plagiários.
Ele conta que seu envolvimento com o assunto começou em 2003, por meio de uma página encontrada por acaso na Internet, intitulada “A rota do nazismo na Amazônia”, em referência ao livro sobre uma misteriosa expedição alemã.
“Minha primeira reação foi a lembrança da teoria da conspiração tramada no livro A crônica de Akakor (Editora Bertrand, 1977) do correspondente da rádio alemã no Brasil, Karl Brugger – assaltado e assassinado no final de 1983 à saída de um restaurante no Leblon, Rio de Janeiro.
Nele Brugger propagava a invencionice contada nos anos 1970 por um falso índio, de uma “expedição nazista à Amazônia”, ocorrida no final da 2ª. Guerra Mundial – crônica esdrúxula reciclada em 2007 por Steven Spielberg.
Plágio bilionário, o cenário apoteótico de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é a “cidade perdida” de Akator, supostamente uma “base subterrânea de nazistas na Amazônia”.
TEMA CINEMATOGRÁFICO
O cineasta americano, tratando dos fatos à sua maneira, de certa forma adiantou-se a Fullgraf, que estava “guardando” o assunto também para aproveitamento cinematográfico. Este é o seu depoimento:”No curso destes anos resisti à publicação do que sabia sobre o Jari para não comprometer um projeto cinematográfico há muito acalentado. Contudo, o episódio atraiu o interesse da revista alemã Der Spiegel, cujo correspondente no Brasil resolveu adiantar-se, publicando o livro Das Guyana-Projekt (O Projeto Guiana). Resisti em lê-lo para não me deixar influenciar, mas a publicidade dada ao assunto na Alemanha justificou a abertura de uma modesta janela no Brasil”.
A primeira narrativa sobre a expedição encontra-se em livro “publicado pela Deutscher Verlag em 1938, em plena ditadura nazista,  Rätsel der Urwaldhölle” – “Mistérios do inferno da selva”.com dezenas de fotos, inclusive um flagrante em que que a bandeira com a suástica tremula alegremente na popa de uma canoa, sobre o Jari”.
VERSÃO OFICIAL
Conta a versão oficial da aventura que em outubro de 1935 desembarcam em Belém do Pará três jovens aviadores alemães, acompanhados de 11 toneladas de bagagem. Além do inexplicável “arsenal” trazido, os alemães não abriram mão do conforto, em plena selva amazônica, de cobertores de pelo de camelo e roupa de cama. Eram eles Gerd Kahle, Gerhard Krause e o líder da expedição, Otto Schulz-Kampfhenkel. Ao contrário da informação, falsa, veiculada pela imprensa internacional, Joseph Greiner, sepultado sob a cruz do Jari, não foi integrante do Esquadrão de Pesquisas Schulz-Kampfhenkel, vindo da Alemanha, mas, provavelmente, contratado no Rio de Janeiro. Explica o líder da expedição: “ já que eu estou no Rio de Janeiro, tento encontrar algum landsmann (patrício), criado no País e versado em Português. Depois de muito procurar, eis que encontro o sujeito certo: Joseph Greiner, auslandsdeutscher (alemão criado no exterior), jovem marinheiro, empreendedor e confiável, que se soma como quarto integrante ao nosso grupo expedicionário, onde terá a função de mestre-bagageiro, capataz e encarregado das provisões. Antes de receber a permissão para subir o Jari, Schulz-Kampfhenkel gastou mais de dois meses com extenuantes despachos aduaneiros e expedientes burocráticos no Rio de Janeiro. Credenciado pelos mais prestigiados institutos de pesquisa e museus de história natural da Alemanha, Schulz-Kampfhenkel conseguiu facilmente a adesão do Instituto Emilio Goeldi, em Belém, e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro” .
FORÇAS ARMADAS TAMBÉM
O mais surpreendente é o apoio dado à expedição pelas próprias forças armadas brasileiras, que – comenta Fullgraf – “ ainda não estavam divididas em facções pró-Alemanha e pró-EUA. Por isso, em Belém, o governador José Carneiro da Gama Malcher e o general Manuel de Cerqueira Daltro Filho prestigiaram o comando alemão com sua visita. Os alemães retribuíram a gentileza com um teste do hidroavião modelo “Seekadett”, de “Águia Marinha” e especialmente equipado com flutuadores de compensado e instrumentos de navegação, tudo inédito para os embasbacados dignatários brasileiros. Talvez o entusiasmo brasileiro se devesse à expectativa de lucrar com o componente mais importante da missão: o levantamento topográfico da bacia do Jari até suas cabeceiras, mapeamento até então inédito, mas previsto nos mínimos detalhes pelo geógrafo Schulz-Kampfhenkel”.  Não era esse, na verdade, o propósito real dos alemães. Para não incidirmos também no mesmo delito do qual Fullgraf se queixa, remetemos os leitores mais interessados ao site da revista “Brasileiros” na Internet, onde está disponível, na íntegra, o texto sobre a misteriosa expedição.

 http://www.icnews.com.br/2012.05.31/colunistas/aroldo-mura/plagiarios-em-expedicao-nazista-a-amazonia/#comment-2769


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