11 janeiro 2014

Manoel de Andrade: América, América...


Trago ainda na alma o mapa dos caminhos...
Meus versos riscam teu dorso para cantar um tempo único e perfumado.
América, América,
ali, entre os ramos e o penhasco, o abismo florescido,
acolá, o milho semeado e a colheita rumorosa.
Entre serras e quebradas vai o colla dedilhando sua flauta,
é seu hino à pachamama modulando o silêncio do altiplano.
Canto meu enredo de viandante,
passo a passo rumo ao norte e à alvorada.
Quantos atalhos, meu Deus, quantas fronteiras!
A travessia ao entardecer no Titicaca,
o Illimani batido pelo sol,
e aquela noite sob as estrelas em Macchu Picchu!
Ah! este aguaceiro vem agora molhar minha saudade,
e tudo me chega como um recanto do passado...
e se hoje digo amigos e digo hermanos,
ouço nossos passos ecoar pelas vielas seculares de Quito e de La Paz.

Ai, América, ainda não disse de ti quanto quisera,
abre teu cântaro, ó Poesia, e dá-me o frescor do rocio,
dá-me a magia e o lirismo...,
que canção para mim soará mais bela que tuas sílabas de encanto?
América, América,
Lembro-me do fulgor do teu rosto renascido da utopia,
tuas bandeiras de sonhos
feitas de plumas e veias transparentes.
Os campos todos semeados
e o porvir tatuado em cada gesto.
Tudo era aroma na gleba cultivada,
nos brotos germinava a esperança
e nossas pálpebras se abriam para o amanhã.

Canto a América que vivi,
entre alegrias e lágrimas, canto o continente ao sul de Anahuác.
Falo de uma América primeira,
asteca, quiché, chibcha, quéchua, mapuche e guarani,
essa América materna,
botânica e mineral,
sangrada por Cortez, Pizarro e por Valdivia.
Falo de uma só pátria,
a grande pátria de Bolívar,
pilhada e violentada,
submetida pelas garras perversas do Império.
Vi tuas trincheiras abertas
e depois as densas trevas caírem sobre o sul.
Sobreveio o chumbo cruel,
os labirintos da dor e as atrocidades.
Na penumbra gemiam os cravos, gemiam as rosas,
e agonizava a vida ainda em botão.


Canto para denunciar a verdade sufocada,
e eis que mancho este verso para nomear Garrastazu, Bordaberry, Videla, Pinochet
e seus rastros genocidas num tempo silenciado.
Canto para dizer das valas clandestinas,
das ossadas do Atacama
e dos “voos da morte” para o mar,
Meu réquiem para trinta mil argentinos,
meu canto para as “crianças da ditadura”,
para os sobreviventes e suas cicatrizes,
para a viuvez e a orfandade
para las Madres de Plaza de Mayo e suas lágrimas perenes.

América, América,
quarenta anos se passaram
e tuas feridas ainda emergem da tragédia!
E aqui declino a “operação” perversa dos “condores”
e os seus generais malditos.
Canto por ti, América,
por tuas aldeias de bravos e por teus calvários,
por teu nevado esplendor tantas vezes torturado,
América de tantos massacres e patíbulos,
ouço-te ainda na voz melancólica dos 
chorando por la matanza de San Juan, em Potosi.
Uma América de martírios,
estrangulada em Cajamarca,
esquartejada em Cusco,
sacrificada em La Higuera.
executada em Trelew e El Frontón,
e nos rituais da morte em Villa Grimaldi e no Dói-Codi.


Por tanta dor nessas memórias
eu vos peço perdão pelo meu canto.
Ele é também assim: um áspero clarim no entardecer.
Distante, tão distante,
no tempo e nos andares,
e hoje, em busca de mim mesmo,
ainda abrigo o mesmo combativo coração.
Não sei o que te espera, América,
os anos correram inquietantes e velozes
restando um mundo com seu som intolerável.

Busco meu íntimo silêncio,
e, por um momento, digo basta...,
meu pensamento em prece, e num lampejo, viaja ao sul do Chile.
Lá, muito além do Bio-Bio, há um golfo deslumbrante.
Vou em busca de Arauco,
lá lutaram meus heróis, Caupolicán e Galvarino.
Foi lá onde viveu Lautaro e onde vive Frederico.
Vou para rever o cone nevado do Antuco
rever o vale e a Cordilheira,
o seu dossel verdejante, onde se gesta a vida.
Vou para relembrar uma baía de barcos,
para construir uma paisagem na alma,
uma tenda de luz para um amigo.

Ilustrações: Divulgação

Curitiba, 22 de dezembro de 2.013


Calle 13 - "Latinoamérica"







10 janeiro 2014

Frederico Füllgraf - O post com 18.000 reproduções na Internet: Ute Lemper canta Pablo Neruda


Ilustrações: divulgação


São raras as cantoras, cuja voz é capaz de encantar-nos em três idiomas simultaneamente. A joia rara chama-se Ute Lemper.

Em seu mais recente trabalho, Ute Lemper Forever. The love poems of Pablo Neruda, a alemã residente em Nova York trafega do francês com sotaque nativo, pelo inglês, que é obrigada a falar em família, ao espanhol. Espanhol cantado de ouvido, escreve-me, porque falá-lo espontaneamente não tem coragem ainda.

Começamos a escrever-nos após a apresentação de seu novo repertório nerudiano na Sala São Paulo, em outubro último, com fundos destinados à pesquisa de combate ao câncer, de onde decolou para uma apresentação especial na 41ª edição do Festival Internacional Cervantino, no México, e de lá para Nova York, onde reside há quase vinte anos.

Naquelas semanas, na pátria de Pablo Neruda eram lembrados os 40 anos do golpe militar, que matou Salvador Allende, torturou e assassinou milhares de democratas chilenos, e que vitimou o próprio Prêmio Nobel de 1971, autor dos elégicos “Versos del Capitán” e de “Residencias en la Tierra”, que Lemper explorou para seu novo repertório, deles selecionando doze poemas para o CD divulgado mundo afora com um trailer, guiado pela própria cantora e compositora.



Lembrei-me do domingo ensolarado de abril, em Isla Negra, quando os ossos do poeta eram sacudidos pela terceira vez desde sua morte, em 23 de setembro de 1973. Depois de sepultados no Cemitério Geral de Santiago, lá transladados de uma sepultura emprestada para outra, própria, e de lá para Isla Negra, na década de 1990, em abril de 2013 foram novamente exumados por determinação judicial, para submeter a exame forense suas mais recônditas fibras e tecituras, em busca de alguma pista que ateste sua morte por interferência de terceiros, leia-se: um assassinato.

Por isso, disparei a queima-roupa: - E o Chile, Ute, não vai se apresentar aqui?

Juntei algumas fotos minhas, da praia acidentada por rochas negras, nos fundos da casa de Neruda, enviei-as para Ute e provoquei-a com a sugestão de ali montar um palco a céu aberto e interpretar os poemas do Prêmio Nobel, homenageando seu mar e proporcionando-lhe a paz merecida. Porque antes de escrever Os Versos do Capitão, em 1939 Neruda adquirira do capitão espanhol aposentado, Dom Eladio Sobrino, a velha casa da então Playa de las Gaviotas. Nas redondezas coletara proas, escombros de cascos, mastros, escotilhas e toda sorte de animais marinhos, até dar à nova casa aspecto de barco e rebatizar a enseada de “Isla Negra”, da qual seria o “capitão”. Com privilegiada “gávea”, seu escritório, poderia então deitar seu olhar sobre o vasto Pacífico, pois como observou Francisco Rivas, escritor chileno, “para Neruda, o mar é aquilo, onde tudo nasce e tudo se dissolve”.

Ute Lemper recebeu com entusiasmo a proposta de um ciclo de shows no país onde já se apresentou, mas do qual apenas se aproximou emocionalmente com a obra de Neruda.

Recusei, lisonjeado, o convite para atuar como seu “delegado” de pré-produção para suas apresentações no Chile, porque não tenho traquejo de “agente”, não conheço as manhas do “mercado” e, sobretudo, não sou titular de portifolio pecuniário para negociar com teatros e intermediários que se pautam unicamente no vil metal, por isso sugerindo à cantora um papel com menos exposição, “atando cabos soltos” nos bastidores.

Em tempo: “te manterei informado sobre o que penso fazer”, escreve-me pouco antes do Natal, em 2014 está mesmo decidida a apresentar-se na patría de Neruda, que era cidadão do mundo.

Trinta anos de carreira

Ute Gertrud Lemper foi criada em uma família de classe média na histórica cidade de Münster, cuja tradução é “mosteiro”. O nome rebatizou uma fundação da Antiguidade, usurpada a ferro, fogo e torrentes de sangue aos valentes Saxões, que desde o Mar do Norte colonizavam o delta do Reno, no séc. VIII massacrados por Carlos Magno, o brutal cristianizador germânico, fundador do Sacro Império Romano de Nação Alemã.

Criança ainda, Lemper aprende piano e balé, frequentando o Instituto de Dança Clássica na vizinha Colônia, de onde se transferiu para o seleto Seminário Max Reinhardt de formação de atores, em Viena.

Na década de 1980, ela fixa residência em Berlim, onde se dedica ao estudo do gênero cabaré.

Em 1972, Bob Fosse levara às telas o já clássico “Cabaret”, com Lisa Minelli interpretando Sally Bowles em um palco decadente de Berlim, no início dos anos 1930. Em 1986, com adaptação para os palcos europeus do mesmo enredo da Broadway, Lemper, 23 anos apenas, revive Sally Bowles em uma turnê retumbante Alemanha afora. Nos anos 1990, ela volta à cena com “In search of cabaret” montado no Theater des Westens, em Berlim, que homenageia duas vertentes do gênero e suas grandes divas, Marlene Dietrich e Edith Piaf.



Com este resgate, o grande mérito intelectual de Ute Lemper foi escrever a memória do mais importante gênero musical alemão do preríodo pré-nazista.

A época coincide com a presença na cidade intra-muros do comediante off norte-americano, de origem judaica, David Tabatsky, que formava atores para espetáculos de variedades e se apresentava em endereços como o “Scheinbar” (Bar aparente) e o “Bar jeder Vernunft” (trocadilho para Bar sem Juízo), os musts no cenário fringe. Conseguiu divertir suas platéias com uma trilogia hilariante: The Man with Three Balls (O homem com três testículos), How I Survived My Jewish Mother (Como sobrevivi Minha Mãe Judia) e Help! I Married a German (Socorro, casei com uma alemã!).

A alemã do título era Ute Lemper.

Nem tudo foi brilho na Cidade Luz

Em 1994, Lemper mudou-se a Paris, onde nasce seu segundo filho. Enquanto Tabatsky tentava sobreviver com suas comédias off, ela aferrava-se às pegadas do chanson, que marcaria sua obra com duas referências indeléveis: Edith Piaf e Jacques Brel. É em Paris que ela estreia no cinema, com uma ponta emPrêt-à-porter” (1994) de Robert Altman, no qual desfila ao natural, grávida e nua em pêlo.

Contudo, da Cidade-Luz não guarda boas recordações apenas: aos 23 anos de idade, sentia-se ao mesmo tempo deslumbrada e despreparada. A truculência, a veemência com que era explorada por agentes, manchetes de jornais e pela TV a assustou. Impossível ter dito tudo aquilo que era publicado a seu respeito. Confiar não podia em quase ninguém, seu melhor amigo – infelizmente, diz ela - era também seu agente e ainda por cima seu amante; tipo desprezível, que somente a explorara. Por outro lado, a França desejava que ela encarnasse a “nova Fräulein da Alemanha”, uma alusão à imorredoura fama de Marlene Dietrich.

Em 1997, por um breve período a família mudou-se para a Londres e de lá para Nova York, onde Lemper finalmente alcança sua consagração como bailarina nos musicais Cats, Peter Pan e The Blue Angel, em Chicago, e ainda em Cabaret e Starlight Express.

Solteira por alguns anos, após separar-se de Tabatsky, no início do novo milênio casou-se com o baterista Todd Turkischer, com quem aos 48 anos de idade topou ter um quarto filho.

Volta e meia retornando ao seu país de origem e apresentações na Europa, Lemper é protagonista de extensa cinematografia, que vai de seriados na TV Alemã (A herança dos Guldenburgs, Três contra Três, ee.oo.), a primeiros papéis em produções como Moscou Parade, Coupable d'innocence, Combat des fauves, Appetite e A River Made to Drown In.
Sua discografia http://www.allmusic.com/artist/ute-lemper-mn0000157308 abrange 24 álbuns, nos quais trafega com desenvoltura e acachapante criatividade, do gênero cabaré pelo chanson francês ao tango de Piazzola.

Ute Lemper é detentora do Prêmio Moliére (Cabaret), já foi nominada para o Prêmio Laurence Olivier e em 1999 foi agraciada com o Theatre World Award por sua estreia nos palcos americanos. É ainda autora da autobiografia inédita no Brasil, Ute Lemper. Unzensiert [Ute Lemper sem Censura, Ed. Henschel, Berlim 1995) e protagonista do documentário There is no Paradise (2002), de Christoph Rüter.

Neruda, poeta do amor

Em The love poems of Pablo Neruda, Lemper repete um recorte de obra já realizado no resgate do gênero cabaré, optando pelo romantismo que precedera as evocações ideológicas mais e mais presentes na obra do poeta, anterior à década de 1940, selecionando onze poemas dos ciclos Os Versos do Capitão e Residência na Terra.

Em seu prefácio ao CD, o jornalista Adam Feinstein, que assina seu Twitter como “especialista em autismo e Pablo Neruda”, justifica a escolha, afirmando que “amantes em todo o mundo continuam cortejando um ao outro com versos de Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, e que “a poesia amorosa de Neruda, seu humanismo e, sobretudo, sua contagiante paixão pela vida continuam tão relevantes e vitais como o foram desde sempre”.

Neruda foi isso: o bardo incitador da libertação do jugo capitalista, e o poeta do intimismo amoroso. Em sua obra, cada um escolhe o que sua alma pede. A luta contra a opressão e o amor são pulsões perenes da alma humana, já Lemper escolheu seu lado mais doce, nem por isso menos áspero: o amor. E explica por que, no vídeoclip de divulgação do CD (vide vídeo).

Os “Versos do Capitão” - breve crônica de uma traição

Desfrutar The love poems of Pablo Neruda não é para qualquer ouvido: é uma obra para audição paciente e perspicaz, escolada pelo bom gosto. O desafio é colocado logo por La Noche en la Isla, primeiro título do CD, interpretado em francês e com arranjos de tango.

Não será exagero afirmar que, desde que se apresentou em Buenos Aires pela primeira vez, em 2000, Ute Lemper sofre obsessivo fascínio pelo tango, e muito particularmente pela dolor, essa angústia cadenciada que habita as composições de Astor Piazzola. Com Neruda, Lemper faz sua segunda aproximação às vibrações da alma latino-americana.

A noite na ilha é na verdade um dos reptos mais espetaculares na vida e obra do poeta. e merece breve intermezzo.

A ilha é uma alusão a Capri, onde Neruda e uma amante secreta se esconderam em 1952 da então esposa e patrocinadora do poeta, a artista plástica argentina, Delia del Carriel.

O poeta e Delia encerravam um nervoso ciclo de exílio, iniciado em 1948, depois que o então senador pelo Partido Comunista, Pablo Neruda, foi perseguido pelo governo de Gabriel González Videla, no Chile, escapando para a Argentina com identidade falsa, em lombo de cavalo. Alcançando o México - no qual dez anos antes se desempenhara como cônsul chileno, e de onde ajudara a fugir em sentido oposto o pintor estalinista David Siqueiros, líder do primeiro atentado contra Leon Trotzky – Neruda adoecera de uma flebite e quis a “coincidência” que uma amiga de encontros furtivos em Santiago, naquele momento cantora em botecos da Cidade do México, chamada Matilde Urrutia, o atendera como enfermeira – tudo sob o ingênuo olhar de Delia del Carriel, vinte anos mais velha que o marido.

Ali, Neruda inaugura o primeiro de seus contumazes triângulos amorosos, pois parte à Europa em companhia de Delia, mas seguido de perto por Matilde: o casal hospedado em um hotel, Matilde em outro, a poucas quadras do seu; o casal viajando de trem, Matilde embarcada no mesmo comboio, poucos vagões atrás. Até que o poeta convence sua mulher para retornar sozinha ao Chile.

Ato contínuo, em companhia de Matilde inicia um périplo político pela Europa, que os conduzirá à RDA e à União Soviética, onde, envergonhado por assumir seu concubinato, o chileno apresenta Matilde como amante do poeta cubano Nicolás Guillén.

Segundo Hernán Loyola, biógrafo de Neruda, foi tal a preocupação em blindar a traição de Delia del Carril por Neruda, que entraram em cena agentes da Stasi, o tristemente famoso serviço secreto da antiga RDA.

Neruda, que jurava com a mão direita sobre o Manifesto Comunista, era também um bon vivant que cultivava amizades burguesas e barrocas. Uma delas o unia ao arquiteto, engenheiro naval e paisagista italiano Erwin Cerio, editor da revista Tra il riso e il pianto, que publicava poemas do chileno.

Ciente do affaire de Neruda, Cerio lhe oferece sua casa como esconderijo em Capri, onde o poeta e Matilde Urrutia chegam na primavera de 1952.

Deslumbrada com o Mediterrâneo a seus pés, em suas memórias (Mi Vida Junto a Pablo Neruda, Seix Barral, 1987) Matilde recorda a casa de Cerio: "Nuestra primera comida en ella, nuestra primera noche en ella. Sería tonto describirla, jamás llegaría a encontrar las palabras para dar la mínima idea de lo que fue. Solamente diré de aquella y de aquella noche: ¡qué fiesta!".

Em uma noite de lua cheia, Neruda lhe presenteia um anel com a seguinte dedicatória: “Capri, 3 de maio de 1952, Seu Capitão" e lhe dedica estes versos: "Toda la noche he dormido contigo / junto al mar, en la isla./ Salvaje y dulce eras entre el placer y el sueño, /entre el fuego y el agua".

Ali nasciam Los Versos del Capitán, que Urrutia guarda em uma caixa de madeira acabada em madrepérola.

Paolo Ricci, artista plástico, sugere publicar Los Versos..., empreendimento financiado pelo Partido Comunista italiano, com uma dedicatória “ao companheiro, exiliado e poeta", e a menção dos distintos incentivadores na última página do poemário: Luchino Visconti, Giulio Eunaudi, Carlo Levi, Renato Gattuso, Salvatore Quasimodo, Elsa Morante e Jorge Amado, que dividia com Neruda o mesmo infortúnio, após a proscroção do PCB e sua expulsão do Brasil.

A ironia: Neruda vivia tórrida paixão por uma Matilde, já Amado se separara de outra - Matilde Garcia Rosa.

A primeira edição com 44 exemplares de Os Versos do Capitão foi publicada em julho de 1952, a capa decorada com a cabeça de uma medusa e ilustrações de Ricci. Assinados por “autor anônimo”, os versos foram falsamente divulgados como “apócrifos”. O ardil visava apenas um objetivo: não revelar a autoria de Neruda à sua ainda esposa Delia del Carril.

Ler Neruda em chanson


Em Madrigal escrito en invierno, segunda faixa do disco sobre poema do ciclo Residencias en la tierra, Lemper incursiona pela primeira vez no idioma do poeta com uma sentida balada, retocada por acordes do sensacional instrumentista chileno, Freddy Torrealba, tido como a máxima expressão do charango andino, que merece ser apreciado em um solo executado no Chile.

De Si tú me olvidas (jazz virtuoso e rasgado, interpretado em inglês), por Tus Manos (poema de Los versos del Capitán, musicado como tango e cantado em espanhol), El viento en la isla (tango raivoso), Alianza.Sonata (sofrido chanson interpretado em inglês), Siempre (improvização de voz de Lemper com declamação de Freddy Torrealba, repetido em inglês com Always), Ausencia (tango cantado em espanhol), El Sueño (maravilhoso arranjo de cordas árabe), até Oda com un lamento (poema de Residencias en la Tierra, transformado em tango) e, finalmente o desolador Poema 20 (jazz executado em inglês), a alemã amalgama com maestría e beleza ímpares as grandes vertentes do gênero chanson que impregnaram seu estilo: Jacques Brel, Edith Piaf, Léo Ferré, Kurt Weill, Astor Piazzola, Johnny Mitchell, para citar os principais.

Acompanhada por instrumentistas de primeira linha - Juan Antonio Sánchez (Chile, arranjos de cordas), Tito Castro e Victor Villena, do Sexteto Piazzola (bandoneon), John Benthal (violão), Steve Millhouse (baixo), Vana Gierig (piano), Todd Turkisher (percussão), Wolfram Koessel (violoncelo), Dov Scheindlin (viola), Jesse Mills (violino) e Freddy Torrealba (charango) como artista convidado - Ute Lemper Forever.The love poems of Pablo Neruda é obra sem igual, desde já um clássico.

Mas é também isso: fiel às noções de Neruda, é uma apaixonada e enfática evocação do amor e da vida, em tempos da teimosa destituição de seu sentido. O que Ute Lemper conseguiu é literalmente revestir de sangue, sêmen, suor e lágrimas os poemas do chileno, em atos de expressão amorosa com total entrega de seu corpo e alma.


Em dado momento de nossas conversas por correio eletrônico, observei a Ute: - Com tanta disputa territorial e ameaça de guerra, que no passado envenenou os ânimos dos chilenos contra os criativos argentinos – que lhe presentearam a independência com San Martín, e com Leopoldo Marechal, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar inspiraram um dos maiores romancistas chilenos da atualidade, como admite o próprio Hernán Letelier – você não teme que, com tanto Neruda vertido em Tango a plateia chilena se sinta “acossada”?


Ao que Ute Lemper respondeu: - Me sugira então alguma canção de Violeta Parra para abrirmos o show. 

Publicado originalmente em: 

http://jornalggn.com.br/noticia/ute-lemper-canta-neruda-por-frederico-fuellgraf



Update - Atualização    


                               January 2014, New York                     


          





UTE LEMPER ON TOUR 2014

February

Thursday, 6 February, 2014

Athens/Gazarte, Greece

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Friday, February 7, 2014

Barcelona, Spain

Palau de le Musica

Banc Sabadell 15 Festival Mil·lenni

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Time: 21:00

Saturday, February 8, 2014

Aviero, Portugal

Teatro Aveirense

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Sunday, 9 February, 2014

Alicante, Spain

Auditorium of Altea

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"


Wednesday, February 12, 2014

Schaffhausen, Switzerland

with the Vogler String Quartet

"Paris Days, Berlin Nights"

Thursday, 13 February, 2014

Hamburg, Germany

Campnagel

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Friday, 14 February, 2014

Vigo, Spain

Teatro Caixonava

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Saturday, 15 February, 2014

Santiago de Compostela, Spain

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Friday, 21 February, 2014

Lisbon, Portugal

CCB

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"

Saturday, February 22, 2014

Munich, Germany

Prinzregenten Theater

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"


Sunday, 23 February, 2014

Berlin, Germany

UDK

"Ute sings the Love Poems of Pablo Neruda"